Nos primeiros anos da minha adolescência fui morar na casa do meu pai, na capital de todos os gaúchos. Foram anos de muita rebeldia e aprendizado. Conviver com alguém é também receber um pouco de seus hábitos e o que mais agradeço é a sede por informação do cara. Um extenso ritual de ler o jornal, ouvir rádio, ficar de olho no que acontece no mundo e, principalmente, filtrar quem são suas fontes de informação. Dessa forma, com 14 anos eu lia o Correio do Povo diariamente (cada linha), ouvia a Rádio Guaíba AM no meu trabalho de officeboy e assistia ao programa “Os Guerrilheiros da Notícia“.
No começo, era engraçado ver aqueles velhinhos conversando sobre geopolítica e fazendo propaganda de suco natural, mas comecei a perceber que ali existia conhecimento, critério e bom humor (sim você não precisa ser prussiano para se divertir às posições políticas dos outros). Foi nesse período no começo dos anos 90 que comecei a admirar grandes seres humanos como Flávio Alcaraz Gomes e o Consul da Rússia para o Rio Grande do Sul, Fernando G. Sampaio.
Faz algum tempo que tenho comprado os diversos livros lançados pelo neto do fundador da Caldas Júnior e percebi que ele é (ainda é difícil dizer era) um expoente do New Journalism e do Gonzo Journalism sem mesmo se dar conta disso ou ser reconhecido como tal. Flávio Alcaraz Gomes esteve presente nos fatos mais importantes da humanidade durante seus anos de forte atuação profissional como a chegada do homem à lua, a guerra dos seis dias, a guerra do vietnam, as diversas copas da seleção brasileira, a primeira radiofoto do jornalismo gaúcho, primeira transmissão offtube, primeira, primeira, primeira…
Para esse ser humano genial reproduzo o telegrama recebido por ele ao final da cobertura da guerra dos seis dias e que representa muito dos seus dias até o momento de seu falecimento:
“10/06/1967 – Flávio Alcaraz Gomes – Teleaviv.
No momento de encerrares tua atuação neste setor, teus companheiros daqui e a direção da Cia. Jornalística Caldas Júnior e da Rádio Guaíba desejam te fazer chegar o melhor dos seus aplausos pelo magnífico trabalho que realizaste. Embora outros tivessem anunciado o envio de correspondentes ao Oriente Médio, em todo esse imenso Brasil o único que apareceu nos sets de rádio e nas páginas dos jornais, o único que se fez presente nos momentos culminantes com a notícia exata, com a informação quente, com a crônica ilustrativa, foi o nosso, foi o da Cia. Jornalística Caldas Júnior. Teu labor encheu de orgulho profissional todos os nossos companheiros. Abraços, Breno Caldas”.
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